Observo o fumo do incenso que arde a pintar telas a preto e branco pelo quarto, no canto junto à guitarra. Junto à guitarra que nunca toquei, e pergunto-me se algum dia a tocarei, ou se a venderei em desespero, ou por me fartar dela. Guitarra essa onde há uns anos tocaste para mim. Melodias que fazias espontaneamente no momento em que estavas comigo, nem que fosse só por estar.
Momentos esses que te passavam pela cabeça tão depressa como um raio, e te faziam vir até mim dar um simples 'Olá' ou um simples: 'Vou-me embora passar o natal com a familia. Bom Natal'
Sinto saudades disso sabes?
De quando me vinhas buscar para jogarmos snooker ou beber alguma coisa. Saudades de ir a tua casa comemorar o ter passado a uma cadeira da faculdade. Lembro-me de quando ia a tua casa ver filmes, ou vinhas cá, e viamos a história passar na televisão agarrados um ao outro. Afagavas-me o cabelo, beijavas-me a testa. Eu fechava os olhos.
E tu, nos flashes do filme e na pouca luz da sala, perguntavas: 'Raquel, já adormeceste? Não adormeças...Acorda...'
Pergunta à qual eu muitas vezes não respondia, só para que me perguntasses de novo, ou para continuar a sentir os teus mimos. Outras vezes respondia com 'Hun?!...' E levantava-me devagar, despedia-me e saía, ou levava-te à porta desejando boa noite.
Houve um dia em que te desejei boa noite, quando me trouxeste a casa. Mas não foi uma boa noite comum. Foi um 'Até sempre...'
Até hoje ele permanece.
Às vezes olho para coisas que me escreveste, ou que comentaste... olho para as fotos, para os presentes que nunca davas sozinho. Passo na tua rua e procuro pelo teu carro, ou pela janela da sala acesa.
Procuro. Mas nem a melodia da guitarra consigo ouvir.
Ela já nao me abraça nem envolve como dantes.
Agora é um vazio.
A guitarra vai permanecer no seu canto, à espera que um dia eu ganhe coragem para a tocar. À espera que eu tome o primeiro passo e a retire do invólucro e a toque. Sem me recordar de ti.
Dói no meu ser mais profundo a falta da tua melodia...
Até Breve.
(moi ^^)