II
Dia a dia mudamos para quem
Amanhã não veremos. Hora a hora
Nosso diverso e sucessivo alguém
Desce uma vasta escadaria agora.
É uma multidao que desce, sem
Que um saiba de outros. Vejo-os meus e fora
Ah, que horrorosa semelhança têm!
São um múltipo mesmo que se ignora.
Olho-os. Nenhum sou eu, a todos sendo.
E a multidão engrossa, alheia a ver-me,
Sem que eu perceba de onde vai crescendo.
Sinto-os a todos dentro de mim mover-me,
E, inúmero, prolixo, vou descendo
Até passar por todos e perder-me.
Dia a dia mudamos para quem
Amanhã não veremos. Hora a hora
Nosso diverso e sucessivo alguém
Desce uma vasta escadaria agora.
É uma multidao que desce, sem
Que um saiba de outros. Vejo-os meus e fora
Ah, que horrorosa semelhança têm!
São um múltipo mesmo que se ignora.
Olho-os. Nenhum sou eu, a todos sendo.
E a multidão engrossa, alheia a ver-me,
Sem que eu perceba de onde vai crescendo.
Sinto-os a todos dentro de mim mover-me,
E, inúmero, prolixo, vou descendo
Até passar por todos e perder-me.
Fernando Pessoa
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