31 maio 2010

Suspiro na noite

Fotografia - "União" - Paulo Madeira

A meio da noite, ele entra de mansinho no quarto onde ela dorme. Ele coloca pe ante para não a acordar, mas guardando no seu coração e corpo a ânsia de a ver acordar de repente e chama-lo para o seu leito.
Ele ajoelha-se à cabeceira da cama, no lado onde ela descança.
Chama-a calma e silenciosamente. ‘Isarma…’
Ela acorda, pois adormeceu durante a espera pelo amado.
Beijam-se. É como que um cumprimento nocturno, como que um reconhecimento pela regra quebrada.
Ambos esperam a união profunda de alma e corpo.
Tornam-se a beijar.
Ele sobe para a cama, destapa-a e torna a beija-la.
Ela retribui cada movimento, cada toque, sem nunca dizer que já tinha adormecido, ou que apenas queria a companhia dele a seu lado na cama vazia. Sem nunca dizer que tem medo de quebrar a confiança ou as condições que implicitamente lhe foram impostas quando ali foi abrigada.
Eles movem-.se, unindo-se aos poucos num só. Ambos se deixam levar…
Amam-se o melhor que sabem…o mais que conseguem…o mais que o momento permite...o mais que as forças quase diminutas de ambos deixam…
Trocam palavras de amor, mesmo que silenciosamente, mesmo que apenas com o corpo…
..mesmo apenas com o toque suave dos lábios de ambos…com o toque suave da mão de Micon no corpo de Isarma…
Deixam o tempo e o decorrer dos acontecimentos ditar o futuro que se segue nos microsegundos seguintes…deixam o seu amor fluir, culminando na união de corpo e alma de ambos.
Resta apenas uma respiração ofegante de ambos, que inunda as sombras nocturnas que preenchem o quarto…que preenchem o seu mundo, onde tudo acontece.


Ana Raquel Joaquim


(para ti*)

22 maio 2010

E hoje encontrou-se isto...

Fotografia: The Woman in the RedII - Ricardo

"Como corpos belos dos que morrem sem ter envelhecido
– e são guardados, em lágrimas, num mausoléu magnífico,
com rosas na fronte e com jasmins nos pés –
assim os desejos são, desejos que esfriaram
sem serem consumados, sem que um só fruísse
uma noite de prazer, ou uma aurora que a lua inda ilumina."



Constantino Cavafy

20 maio 2010

Pensamento do Dia


"Por que é que pessoas que acham normal ir às igrejas e aos templos inclinar-se, ajoelhar-se e orar diante de ícones, cruzes ou estátuas, acham anormal contemplar o sol? Como se pode imaginar que se receberá mais luz ou conforto interior fechado entre paredes e no meio de objectos de metal ou de madeira, do que indo pela manhã, na Natureza, dirigir-se ao sol irradiante e vivo, que saiu das mãos de Deus? Não há qualquer inconveniente em ir orar nas igrejas. Mas ficai a saber que é o sol que, graças à sua luz e ao seu calor, vos ensinará a viver a vida divina."

Omram Mikhaël Aïvanhov

17 maio 2010

..encontrei algures por ai =)


"não me importo com as rimas. raras vezes há duas árvores iguais, uma ao lado da outra. penso e escrevo como as flores têm cor mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me porque me falta a simplicidade divina de ser todo só o meu exterior. olho e comovo-me, comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado, e a minha poesia é natural como o levantar-se vento..."


Alberto Caeiro

16 maio 2010

'Fireflies' - Owl City



You would not believe your eyes
If ten million fireflies
Lit up the world as I fell asleep
Cause they'd fill the open air
And leave tear drops everywhere
You'd think me rude but I would just stand and
Stare

I'd like to make myself believe
That planet Earth turns, slowly
It's hard to say that I'd rather stay awake when I'm asleep
Cause everything is never as it seems

Cause I'd get a thousand hugs
From ten thousand lightning bugs
As they tried to teach me how to dance
A foxtrot above my head
A sack-hop beneath my bed
The disco ball is just hanging by a thread
(Thread, thread...)

I'd like to make myself believe
That planet Earth turns, slowly
It's hard to say that I'd rather stay awake when I'm asleep
Cause everything is never as it seems
(When I fall asleep)

Leave my door open just a crack
(Please take me away from here)
Cause I feel like such an insomniac
(Please take me away from here)
Why do I tire of counting sheep?
(Please take me away from here)
When I'm far too tired to fall asleep
(Ha-ha)

To ten million fireflies
I'm weird cause I hate goodbyes
I got misty eyes as they said farewell
(Said farewell)
But I'll know where several are
If my dreams get real bizarre
Cause I saved a few and I keep them in a jar
(Jar, jar, jar...)

I'd like to make myself believe
That planet Earth turns, slowly
It's hard to say that I'd rather stay awake when I'm asleep
Cause everything is never as it seems

Owl City - Fireflies

Pensamento do Dia


13 maio 2010

"Dizes-me: tu és mais alguma coisa"






Dizes-me: tu és mais alguma coisa
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm ideias sobre o mundo?
Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as coisas:
Só me obriga a ser consciente.
Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.
Ter consciência é mais que ter cor?
Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que só diferente.
Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.
Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.
Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.
Sim, faço ideias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,
Como que sou inferior.
Mas não digo isso: digo da pedra, «é uma pedra»,
Digo da planta, «é uma planta»,
Digo de mim «sou eu».
E não digo mais nada. Que mais há a dizer?


Alberto Caeiro

12 maio 2010

'Before the Worst' - The Script



It's been a while since the two of us talked
About a week since the day you walked
Knowing things would never be the same
With your empty heart and mine full of pain
So explain to me, how it came to this
Take it back to the night we kissed
It was Dublin city on a Friday night
You were vodkas and coke, I was Guinness all night

We were sitting with our backs against the world
Saying things that we thought but never heard
Who would have thought it would end up like this?
Where everything we talked about is gone
And the only chance we have of moving on

Is try to take it back
Before it all went wrong

Before the worst, before we mend
Before our hearts decide
It's time to love again
Before too late, before too long
Lets try to take it back
Before it all went wrong

There was a time, that we'd stay up all night
Best friends talking till the daylight
Took the joys alongside the pain
With not much to loose, but so much to gain
Are hearing me? Cause I don't wanna miss,
Set you a drift on memory bliss
It was Grafton Street on a rainy night
I was down on one knee and you where mine for life

We we're thinking we would never be apart
With your name tattooed across my heart
Who would have thought it would end up like this?
Where everything we talked about is gone
And the only chance we have of moving on

Is try to take it back
Before it all went wrong

Before the worst, before we mend
Before our hearts decide
It's time to love again
Before too late, before too long
Lets try to take it back
Before it all went wrong

If the clouds don't clear
Then well rise above it, well rise above it
Heavens gate is so near
Come walk with me through
Just like we use to, just like we use to

Lets take it back
Before it all went wrong

Before the worst, before we mend
Before our hearts decide
It's time to love again
Before too late, before too long
Lets try to take it back
Before it all went wrong

The Script - Before The Worst

11 maio 2010

"Ressabiadas"


Talvez lá no fundo acredite
que os seres humanos são todos sensivelmente
os mesmos em toda a parte, mas então
necessariamente as mulheres são mais.
Costumes que frequentamos:
o arame da loiça, os panos dos pratos, os ganchos e as linhas
do estendal, a vinha-de-alhos, o fogão,
o alguidar, guardamos os restos, torcemos
os trapos, os nossos recados, os nossos sacos,
os nossos ovos.

Certamente que eles, em grande maioria,
escanhoam os queixos e gostam
de arejar, mas são médicos, polícias,
engraxadores, economistas
e os vários naipes da banda filarmónica
nós somos todas domésticas, mesmo

assim não nos entendemos, e
nem serve escrever isto
que o maniqueísmo em traços largos
resvala na aldrabice, e a poesia
vem dos anjos já se sabe
carecidos de sexo.

E aliás que me rala a mim,
levo a minha vida e tenho o amor
de que não desconfio
e se consolo o cio e a fome
decerto falo de cor,
nem é por isso que me doem os calos
mas por causa dos bicos
dos vossos saltos
no desnível dos soalhos, refinadas
galdérias que se tomam a sério,
pestanas certeiras e beiços
que brilham, línguas que estalam
e mamas que chispam

corada invoco a imagem mal tirada
da fêmea recortada ao macho que a conforma;
sei que desminto qualquer laço comunal
e seja como for ninguém pediu
o meu palpite, pelo que não me habilito
e me desquito, acinte
mudo, era eu

quem estava mal.


10 maio 2010

"Dobra"


Se tu amas por causa da beleza, então não me ames!
Ama o Sol que tem cabelos doirados!

Se tu amas por causa da juventude, então não me ames!
Ama a Primavera que fica nova todos os anos!

Se tu amas por causa dos tesouros,então não me ames!
Ama a Mulher do Mar: ela tem muitas pérolas claras!

Se tu amas por causa da inteligência, então não me ames!
Ama Isaac Newton: ele escreveu os Princípios Matemáticos da Filosofia
Natural!

Mas se tu amas por causa do amor, então sim, ama-me!
Ama-me sempre: amo-te para sempre!



Adília Lopes

01 maio 2010

"Retrato"


Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?


Cecília Meireles