30 abril 2010

"A curiosidade começa à noite"


' A curiosidade começa à noite '


Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos cânticos.

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno,
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.


Camilo Pessanha,


Clepsydra, Assírio&Alvim, 2003

23 abril 2010

Pensamento do dia



" “Uma declaração de amor”... Haveria muito a dizer sobre esta expressão. Os homens e as mulheres têm o hábito de declarar uns aos outros o seu amor, sem saberem que nesse modo de agir se infiltra um elemento interesseiro, egoísta. Eles querem atrair, conquistar, capturar, a pessoa a quem estão a dirigir-se. Escrevem-lhe ou falam-lhe o mais poeticamente possível, escolhendo os gestos, as palavras e o tom de voz apropriados, na esperança de que a pessoa, seduzida, tocada, encantada, acabe por se deixar convencer. Geralmente, o amor que se exprime tem por objectivo conquistar e guardar para si o ser amado; a partir desse momento, mais ninguém tem o direito de se aproximar dele. Portanto, na realidade, o egoísmo e a falta de fé na força do amor é que guiam os humanos. Como eles não têm o verdadeiro amor que faz maravilhas, apressam-se a manifestá-lo por meios concretos – a palavra, a escrita, os gestos –, a fim de aprisionarem o ser que amam. E se afirmam que é a força do sentimento que os impele a agir assim, na realidade estão a declarar a sua própria fraqueza. Quem é habitado pelo verdadeiro amor não o exprime, não é necessário, pois esse amor sente-se: ele irradia. "






Omraam Mikhaël Aïvanhov

19 abril 2010

Rails


De que serve, afinal, ter rails que nos guiam o caminho?
De que serve ter linhas (supostamente) infinitas, que nos impõem um caminho?
Seguimo-las desde que respiramos a primeira golfada de ar assim que chegamos ao mundo, sem nunca nos questionar qual a nossa vontade própria..
…sem nunca nos perguntarmos se realmente queremos aquelas pessoas ou aquelas situações no nosso caminho.
Sem nunca nos perguntarmos se é sobre aqueles valores ou ideais que queremos viver.
Sem nunca nos apercebermos dos padrões que vivemos, e dos que criamos, e dos outros que podemos vir a criar…

Ate que um dia, crescemos e queremos mudança, autonomia, independência.
Olhamos para trás à procura de conforto, e apenas vemos coisas das quais queremos fugir e não repetir, quer tenhamos aprendido a lição ou não.
Olhamos em frente, e deparamo-nos com um tronco no caminho, que impede a nossa carruagem de continuar. Olhamos para os lados, e vemos algumas das outras carruagens que antes nos acompanharam a avançar destemidas, outras como nós, mas que têm um empurrão de outrem, e avançam, mesmo que lentamente. Outras que ficam para trás, bloqueadas, e que tentámos ajudar mas desistimos. Outras que preferiram, simplesmente, ficar para trás.
Ao mesmo tempo, reparamos que os rails onde circulamos, para além do obstáculo, estão danificados. A única coisa em que pensamos é no tempo que vamos ficar à espera do concerto.
Nunca nos perguntamos se é um dano aparente ou não.
Nunca.
Nunca arriscamos seguir em frente. Apenas nos questionamos porque outros seguem e nós não. Apenas nos perguntamos porque não somos ajudados.


Até que um dia, uma carruagem passa por nós, uma que nunca tínhamos visto, e pergunta porque estamos parados há tanto tempo. Sim, pois ela observava-nos de longe, sem nunca se deixar ver, mas sempre fazendo o trabalho dela.
Respondemos com a maior da inocência (e alguma ignorância) que esperávamos por ajuda, pois não sabíamos como avançar assim.
É-nos então sugerido que avancemos. É-nos afastado o medo de arriscar, o medo de avançar e o medo da conquista.
Lembram-nos que podemos ser o que desejamos, que nada mais nos irá ser pedido. E que, na verdade, nunca nos pediram mais que isso. Nós é que somos demasiado inseguros e nos questionamos a nós mesmos e criamos medo.
É-nos pedido que arrisquemos, dizem que se calhar lá para a frente, o caminho melhora. Que podemos ter de arrastar um pouco o obstáculo pelo caminho, ate que ele se demova e saia.
Pode ser ate que o obstáculo seja uma ilusão, como tantas outras que criamos ao longo do nosso caminho.
Sim, porque nós criamos o nosso caminho, o que o envolve e preenche. Nós criamos os nossos próprios desafios e aprendemos com eles.
Nos decidimos então, seguir caminho, e não mais ficar parados, como seria suposto.
Avançamos, e vamos em caminho à liberdade, à felicidade, ao nosso caminho sem objecções, sem padrões e sem aprendizagens que não queremos.
Seguimos sendo apenas e somente, nós próprios com a nossa essência.
Ana Raquel Joaquim

18 abril 2010

Pensamento do Dia




"É magnífico os artistas serem criadores, produzirem obras! Mas isso não chega, eles também devem preocupar-se com o que emana deles. A verdadeira arte é fazer da sua existência e de todo o seu ser uma obra de arte onde tudo será poesia, música, luz, harmonia de cores, formas, movimentos...E a arte do futuro será fazer o ser humano compreender como pode ter de novo o seu rosto original, o rosto da Divindade... Serão necessários muito tempo, muitos esforços e muito trabalho para o conseguir. Mas não há que deixar-se de ter por esta questão do tempo, pois, se as criações que o homem produz no exterior não lhe pertencem – ele tem de as abandonar no momento da morte –, o trabalho que ele fez sobre si próprio permanece para sempre."
Omraam Mikhaël Aïvanhov

'Make This Go On Forever'

...na tentativa de ir colocando no blog melodias que conseguem substituir a minha inspiração no papel...pelo menos por momentos...


Please don't let this turn into something it's not
I can only give you everything I've got
I can't be as sorry as you think I should
But I still love you more than anyone else could

All that I keep thinking throughout this whole flight
Is it could take my whole damn life to make this right
This splintered mast I'm holding on won't save me long
Because I know fine well that what I did was wrong

The last girl and the last reason to make this last for as long as I could
First kiss and the first time that I felt connected to anything
The weight of water, the way you told me to look past everything I had ever learned
The final word in the final sentence you ever uttered to me was love

We have got through so much worse than this before
What's so different this time that you can't ignore
You say it is much more than just my last mistake
And we should spend some time apart for both our sakes

The last girl and the last reason to make this last for as long as I could
First kiss and the first time that I felt connected to anything
The weight of water, the way you told me to look past everything I had ever learned
The final word in the final sentence you ever uttered to me was love

And I don't know where to look
My words just break and melt
Please just save me from this darkness
Snow Patrol - Make This Go On Forever

13 abril 2010

Hoje encontrei por ai...


não se inventam histórias
e quando não há que dizer risca-se muito
até de manhã
quando há que dizer também se risca muito

todos os dias
um último olhar por terra

revolvo os versos como um cão
o que procuram os cães no lixo
comida
e a comida que mata a fome é boa



João Almeida
in Glória e Eternidade, Teatro de Vila Real

(daqui)