21 dezembro 2009

parabéns (atrasados) a mim e à Ana =P


"Faz um ano que nos encontrámos
aqui.
duas jovens mulheres,
duas jovens vidas,

ainda por começar,
ainda por despertar para a sua verdadeira essência.
nao interessa o que mudámos.
interessa o que somos,
agora

neste momento,
como em todos os momentos,
somos mais do que nós:
somos quem conhecemos,
somos os eventos que nos mudaram,

somos quem queremos,
somos quem vira a pagina de mais um ano,
somos quem recita,
somos quem lê,
somos quem ouve,
somos quem vive,
quem nos vive,
quem nos sente e nos permite ser o nosso ser.

somos, vocês
nos sorrisos e nas lágrimas,
na partilha

somos o vosso espelho
tal como voces o nosso,
no conhecimento mútuo

na redescoberta do universo,
do nosso lugar no universo,

do nosso lugar na jornada,
que é a vida. "

by Rakiely e Carol

Um enorme obrigado a todos pela presença e pelos sorrisos!!!
Para o ano há mais! xD

Rakiely e Carol

20 dezembro 2009

Falando em mudança...


"Por que é que gastais a vossa vida a correr atrás de aquisições que não são tão importantes como a própria vida? Se pensásseis primeiro na vida que está em vós, para a protegerdes, a preservardes na maior pureza, teríeis cada vez mais possibilidades de realizar os vossos melhores desejos. É precisamente essa vida iluminada, esclarecida, intensa, que pode dar-vos tudo. A partir do momento em que recebestes a vida, pensais que podeis fazer dela seja o que for… Mas não! Quando tiverdes trabalhado durante anos para satisfazer as vossas ambições, um dia estareis tão esgotados, tão gastos, que, se puserdes na balança o que obtivestes e o que perdestes, aperceber-vos-eis de que perdestes quase tudo para ganhar muito pouco. E isso será inteligente?... Daqui em diante, esforçai-vos por trabalhar unicamente para embelezar a vossa vida, para a purificar, a santificar. Só a vida pura, harmoniosa, intensa, pode ir tocar, nas regiões subtis do espaço, correntes e entidades que virão ajudar-vos e inspirar-vos."

Omraam Mikhaël Aïvanhov

19 dezembro 2009

'Arte Doméstica'

Fotografia: 'Tocando o Céu' - Ana Raquel Joaquim (Rakiely)

"Não procures saber por que é
que um corpo triste
é um pleonasmo enorme. Deita-te
à sombra dos versos
como se as cidades fossem perdoáveis,
como se houvesse um nome,
esse nome fosse teu
e resplandecesse em sonora treva.

Despeja os cinzeiros com prudência
antes de o sono não te responder
e convoca o silêncio possível,
enquanto num televisor próximo
a guerra se adia e os olhos esmorecem.
Podes sempre fingir que não vês
nem ouves o céu sulcado de enjoo,
os gritos mortais das crianças.

Um dia na vida, alugado, apesar
do relógio da vizinha,
sempre tão certo, e do autoclismo
a pingar, também certo,
a dizer-te uma qualquer coisa nula
que deitas fora junto com os cigarros de ontem.

Tens tempo para o teu testamento,
esse último poema sem destinatário
(e não te perguntes o que irá o Estado
fazer com tanto Bach e família,
pois nessa altura estarás
finalmente surdo). Alegra-te
com o vento inerte de Junho, a saudar-te
entre latidos de cães alheios.

E, sobretudo, não procures nunca saber."




Manuel de Freitas
in Os Infernos Artificiais, Frenesi

(daqui)

13 dezembro 2009

...falando em desapego...


Why do I desire
What I do not need?
Why does my soul, like fire,
Or a hot abstract greed,
Seek all that is higher?

Why, if not because
It is a soul?
Who can know the cause
When it lies in its whole
Hidden in laws?

Yet this matters not.
What matters is pining
And that stress of thought
That comes of diving
What to wish that may not be got.


Fernando Pessoa
"Poemas ingleses"

10 dezembro 2009

Motion of life.


"Onde estás?

- Aqui.


Que horas são?

- Agora.


O que estás a fazer?

- A viver o momento"




02 dezembro 2009

ora toma la para ver se acordas miúda...


"Que espectáculo encantador, o dos esforços que uma criança fazpara aprender a andar! Ela vacila, cai, levanta-se, volta a caire levanta-se de novo… Ao passo que um ancião que cai tem deesperar que venham levantá-lo; e, quando o levantarem, pode sernecessário levá-lo ao hospital.Que lição há a tirar destes dois exemplos? A criança e o anciãosimbolizam as duas atitudes que o homem pode adoptar na conduçãoda sua vida. Há imensas pessoas que, tendo decidido trabalharsobre si mesmas para se melhorarem, se detêm ao primeiroinsucesso, à primeira queda, dizendo: «Estou farto! Não tentareisegunda vez!» Pois bem, no seu carácter, na sua alma, nos seuspensamentos, essas pessoas são velhas; elas não entrarão noReino de Deus, pois o Reino de Deus é para as crianças; Jesusdisse-o: «Se não vos tornardes como as crianças, não entrareisno Reino dos Céus.» Vale a pena fazer milhares de tentativas, sefor necessário, e, quaisquer que sejam as quedas, reerguer-separa continuar a caminhar."

Omraam Mikhaël Aïvanhov

01 dezembro 2009

São Horas


9.00 am.
Toca o despertador.
Ela levanta-se, arranja-se, toma o pequeno-almoço, sozinha, na cozinha. Como sempre.
Cada movimento é feito lentamente como se de um passo cirúrgico se tratasse, como se dele dependesse a vida de alguém.
Vagueia pela casa, perdida entre quatro paredes. Perdida num mundo falso e mentiroso, num mundo imposto por quem nele não quer viver e por quem dele quer sair, mas não se digna a sair, nem sequer a tentar.
Senta-se no sofá, liga a televisão. Zapping para a frente, zapping para trás. Já percorreu todos os canais que tem. Muda a posição no sofá. Chamam-na para o almoço. ‘Já?!’ questiona-se Ela, que pensava ter acabado de acordar. São 2 da tarde.
Não sente vontade de comer. Come simplesmente por necessidade, porque tem de alimentar o corpo para ele se mexa nesta monotonia mórbida.
- ‘Come! Despacha-te! És sempre a mesma coisa…sempre a engonhar!’
-‘Eu não sou como tu, não gosto de comer como quem tem pressa de ir para o comboio. Gosto de comer devagar [não me apetece comer, pensa Ela]. Se estás com pressa, vai tratar da tua vida que eu trato da minha. Deixa-me comer em paz…[por favor…]’
- ‘Tem agora algum jeito?! Anda lá, come depressa, que quero ir trabalhar, mesmo não querendo, e não me quero empatar!’
-‘Se tens de ir trabalhar e estás com pressa, vai. Não preciso das tuas mãos para comer, não te empates por mim. Trata da tua vida’
-‘Não te estou a dizer que me empatas, estou a dizer para te despachares que tenho pressa! Mexe-te!’

Ela continua a comer ao seu ritmo, mas perde a fome. Desiste de continuar a refeição, se é que se pode chamar assim. Desiste de alimentar o corpo, tal como desistiu de se alimentar a si mesma, por comentários como este, por comentários com os quais vive constantemente. Comentários esses que lhe entraram pelos ouvidos e lhe penetraram a alma desde que chegou da maternidade. Se calhar, desde que foi concebida. Ou talvez antes ainda… quando não passava de um sonho de alguém.
Ela não come mais. Sai de casa com a Contradição. Tomam café. Contradição finge ser alguém que não é, para com os presentes no estabelecimento. ‘Ou será que ela é mesmo assim, e finge só para mim?’, pensa Ela.
Contradição segue para o trabalho. Ela volta para casa, para o sofá e para o zapping.
Ela sonha acordada com um mundo lá fora, com um mundo que não existe. Na verdade, sonha com um mundo que sabe existir, que já experienciou, mas que em casa não acreditam existir, porque não o aceitam. Não completamente. Dizem aceitar, mas da boca para fora. Já diziam os antigos: palavras… leva-as o vento.
Não dá nada de jeito na televisão. Sempre as mesmas séries, as mesmas linhas de texto, sempre frases ‘filosóficas’, frases ‘iluminadas’, frases feitas e falsas, frases que são ditas com obrigação e ‘por que ficam bem’, frases e sentimentos fingidos por um maço de papel verde com valor na bolsa, mas sem valor na alma e no coração. Sem amor.
Já são 18horas. O mundo gira, mas lá fora. Cá dentro, nestas quatro paredes, tudo continua estagnado. Ela olha para a rua, pelo pedaço de tecido pendurado na janela. Vê um sol dourado que, por hoje, já fez a sua função, mas que ninguém soube aproveitar, que ninguém soube ver ou dar valor.
Ela como que acorda, e decide fixar o Sol com o olhar fechado. Sente-se cheia, com vida. Lágrimas salgadas escorrem pela face delicada. Ela deixa-as cair… e cair… cair… Começa a sentir-se ela, na sua essência que ninguém consegue ver, apenas Ela. Apenas Ela a sente e sabe que existe.
Ela abre os olhos. O mundo que está à sua volta não é o seu. Agora Ela sente a coragem, a força que nunca teve.
Levanta-se do sofá, que sempre acompanhou a sua vida.
Contradição e esposo entram pela porta: ‘Então, sem fazer nada hein? Boa vida…’, comentam.
Ela vai ao quarto, ao seu mundo intimo, pega numa mochila de trapo, escolhe incensos, livros que tocaram a sua essência, amuletos e algumas fotografias. Ata um casaco à cintura e sai.
-‘Onde vais dessa maneira?!-não viste que estávamos a falar contigo?!’
-Estavam? Não dei conta. Viram que eu estava cá? Hm… não é habitual. De qualquer das formas, vou deixar de estar mesmo. Até à vista’

Ela sai pela porta que limita o mundo falso que lhe fora imposto. Sai rumo ao desconhecido.
Sai rumo ao Sol dourado…
Sai rumo ao infinito do seu ser.
Sai rumo à sua essência que não pode ser desperdiçada.
Sai rumo à demanda da sua alma.
São horas… horas de começar a ser Ela mesma.
Ela.


Ana Raquel Joaquim