21 setembro 2010

"Epigrama"

Tela by Goya
Epigrama

Dava-me gozo imaginar, como a todos os homens,
que a miúda que amava se deitava com outros,
que o fazia inclusivamente com pessoas do seu sexo,
para acrescentar-lhe tesão e loucura.
Divertia-me sofrer com esses disparates,
pensar que aquelas curvas que tanto me excitavam
teriam sido de gregos e seriam de troianos.
Mas passei os limites. Levei-o tão a sério
que tive que vingar a minha honra nunca ofendida
no plano real, que é aquele que menos conta.
Sim. Matei-a no mesmo leito em que imaginava
que me havia enganado tão deliciosamente,
e a seguir matei-me, para o caso de restarem dúvidas
quanto ao meu amor, silenciando futuras críticas.

Caminhante que passas ao lado desta tumba,
que estas palavras guiem os teus passos na vida.
Por mais que te divirta imaginá-la nos braços
de alguém que não tu, não percas a cabeça.
Mata-a só a ela, rasga em pedaços o seu cadáver
e busca outra miúda para continuares sonhando.


Luis Alberto de Cuenca

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